quinta-feira, 2 de abril de 2015

Minhas Vivências






Queridos, estive ausente por motivos de: Muitas atividades na faculdade. Mas, hoje vou fazer um post bem bacana, espero que todos gostem, nesse post vou falar de tudo que aconteceu comigo nos últimos dias e olhem, não foram poucas coisas, então, esse será um post grande.... rsrs

Bem, eu não sei se já falei mas, tenho uma sobrinha de 4 anos, ela é um amor de menina, esperta, linda, tem pele clara e cabelos bem caracolados, ela é muito carinhosa e tudo mais, porém, o maldito do racismo está começando a enraizar sobre seus pensamentos. Dito isso, vamos ao fato, a uns dias atrás ela pegou o celular da mãe e veio falar comigo pelo whats, ela não sabe digitar então fala por voz, primeiramente ela me elogiou e falou que estava com saudades, minutos depois ela disse a frase "Tio Ton, você está muito preto e gordo nessa foto, viu?", então foi nesse momento que  meu mundo caiu, não pela afirmação dela e sim pelo tom que ela usou, como se eu tivesse que resolver o problema, como se algo estivesse errado. Eu tentei reagir da melhor forma possível e expliquei que não tinha problema algum em ser gordo e preto, que essas duas coisas eram coisas boas mas, no meio da explicação minha irmã tomou o celular e mandou uma mensagem dizendo que a menina tinha apenas 4 anos e eu não deveria atormentar a menina com meus traumas. Fiquei muito triste e magoado, até quando serei chamado de complexado/traumatizado por apenas tentar desconstruir o racismo?!

Durante esses dias minha mãe me questionou sobre minha sexualidade, afirmou que ela não viveria feliz tendo um filho gay, sinceramente, não sei como lidar com isso, ser gay faz parte de mim enquanto pessoa, por outro lado eu não quero magoar minha mãe e então como eu lido? Não sei. o que sei é que não viverei o tempo todo me escondendo ou abrindo mão da minha vida. 

Na quinta feira passada eu tive uma conversa bem rica com minha professora de sociologia sobre identidade e o cabelo da mulher negra nessa sociedade racista, ela falou algo que eu considero muito importante e irei reproduzi pra vocês. Ela me falou que não quer que todas as mulheres que alisam o cabelo parem de alisar, mas quer que as mulheres de cabelos crespos/cacheados que alisam, alisem por um querer e não por imposição, ou seja, que as mulheres negras possam no mínimo se reconhecer com o seu cabelo crespo/cacheado, que ela possa se achar bonita e transitar em todos os cantos com o seu cabelo e se depois desse reconhecimento ela quiser mudar, que mude. Ela pontuou que temos uma população onde a maioria das mulheres tem cabelos crespos/cacheados (80 %) e mesmo assim as mulheres negras contam que não conseguem se sentir bem com seus cabelos e que alisam desde muito cedo. Achei isso bem importante, sabem? Acho que as mulheres negras podem sim mudar, assim como as mulheres brancas mudam, mas que isso seja por opção/gosto.

Outro dia estava refletindo sobre a quantidade de situações racistas que vivenciamos na infância e só sabemos nominar como racismo depois de adulto. Lembro que eu fazia parte de um grupo chamado "infância missionária" na igreja perto da minha casa, e que uma vez uma das lideres do grupo teve a ideia de fazermos uma peça teatral, no grupo tinham apenas 3 meninos, eu, e mais dois colegas, um negro e outro loiro. Na peça também só iríamos precisar de três personagens homens, um advogado, um lacaio e um príncipe. Ela foi "justa" pediu que os três fizéssemos uma espécie de teste para o papel, bem, o resultado ficou sendo: eu como o lacaio, meu colega negro o advogado e o loiro príncipe. Na ocasião eu chorei, gritei, ameacei sair do grupo, porque eu queria ser o príncipe, ora, qual criança não iria querer ser o príncipe?! Mas todos do grupo me falavam que eu não tinha ido bem enquanto príncipe e que meu colega faria melhor esse papel, eu, que já lia histórias sobre um príncipe heroico e branco, estava ali ouvindo de várias pessoas que  de fato eu não servia para aquele papel. Bem, eu poderia hoje em dia chegar a conclusão que de fato naquele momento eu não era apto para o papel, só que não foi só aquele papel, vocês me entendem? Eu nunca fui escolhido para ser o príncipe ou o Romeu ou qualquer outro papel de destaque, na verdade, teve uma vez que eu fui escolhido para ser o saci pererê, aquele negro folclórico e de uma perna só, afinal, ele era a única representatividade negra marcante o qual eu me encaixaria perfeitamente pra contracenar. Moral da história, precisamos de mais representatividade na TV e em outros espaços, é preciso que as crianças saibam existem  heróis/príncipes negros e que elas servem sim para atuar como príncipe. Ah, eu gostaria de um dia poder dizer pra toda aquela galera que eu atualmente tenho atuado como príncipe em uma peça chamada vida. HAHAHAH. 


(Experimentem jogar "príncipe" no google e tentem encontrar 1 negro)



Depois continuo o post, acabou o espaço. Abraços e um bom feriado!!!

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